segunda-feira, maio 22, 2006

três em um

Lembro-me que quando pequena, sentada na varanda da casa de minha avó com minhas sandálias de couro, sentia solidão. Nos dias de festa meus primos corriam ao redor da casa, inventavam brincadeiras das quais eu nunca participava, apenas observava de longe, curiosa. Eram cinco meninos eu. Não era de todo mau, devo admitir que por ser a única menina e de todos os netos a mais nova, era bem cuidada e paparicada. Sendo vovó uma boa costureira, nunca me faltaram vestidos de todas as cores.
Grande parte de minha infância desejei ter nascido menino. Acreditava que devido a minha condição de menina me pesava nos ombros a obrigação dos bons costumes e de timidez. Mal eu sabia que estes eram aspectos intransponíveis da minha personalidade.
Passei a desejar então uma irmã. Ela chegou, porém muito tempo depois, quando eu já não esperava muito menos desejava; gerada não do ventre de minha mãe, e sim no de uma mulher que meu pai se aninhou durante treze anos de minha vida, de modo que ninguém nunca soubesse.