quinta-feira, setembro 22, 2005

vertigem

Acho impressionante o poder de síntese que algumas pessoas possuem. Quero dizer, quando alguém diz coisas muito significativas em poucas palavras, enquanto tem outro fulano tentando dizer a mesma coisa em mil e trocentas frases. Saber lidar com as palavras é um dom que eu gostaria de ter.
Hoje assisti a palestra de Ferreira Gullar na faculdade, até então um completo desconhecido pra mim. Adoro ser surpreendida como fui hoje, por pessoas deste tipo, que de cara não criam a menor expectativa (particularmente nunca me interessei muito por poesia) em você, o menor interesse e no fim causam espanto. Pelo menos comigo foi assim.
Ferreira Gullar é um poeta cearense que completa 75 anos este mês e está sendo homenageado pela faculdade de letras. Só um comentário: com essa idade, o cara é mais lúcido do que eu jamais fui, e tem consciência política que eu provavelmente nunca terei.
Então, no final da aula decidi assistir a tal palestra com a Nanny e com a Priscila (tenho que falar delas depois), fomos pro auditório sentar nas mortais cadeiras de plástico brancas. Depois que garanti o meu lugar (já bastou ter sido a única a assistir de pé o show do Fagner ontem, mas isso é outra história), fui comprar um salgado antes da palestra começar. Quando estava voltando, cruzei com o dito cujo de cabelos brancos, nariz e orelhas grandes, sendo cercado por alunos no corredor da biblioteca, coitado. A palestra começou e Gullar começou a me surpreender daí. Não que ele fale sobre coisas extraordinárias, mas o modo extraordinário que ele fala das coisas. E trouxe pontos de vista que eu não conhecia. Falou sobre coisas que eu já pensei a respeito, mas de maneiras tortas sem nunca encarar de frente, a grande diferença está aí.
Se já me disseram que a vida é inventada, a arte é inventada e Deus é inventado porque é muito perturbador viver ao acaso, nunca foi dito desta maneira. Ferreira Gullar tem culhões, não é, Marina?

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
(F.G)

sexta-feira, setembro 09, 2005

"Semana da independência. Então é a sua semana. Você é indie, que eu sei."

Lúcio Ribeiro é genial, fala a verdade!