terça-feira, dezembro 26, 2006

Tinha a vaga sensação de que alguém havia me dado um recado. Não me lembrava de grande parte dele pois estava num sono profundo quando me foi passado.
Passei a língua sobre o s dentes incisivos inferiores e senti um arrepio percorrer todo o corpo. Pensando nisso, abri os olhos, pensei em colocar o dente arrancado ainda há pouco em cima da cômoda, mas meu corpo somente obedeceu aos movimentos de girar o pequeno relógio em minha direção. 9:25. Achei que tivesse dormido mais, gostaria de ter dormido mais.
Não entendia porque o número 69 latejava na minha cabeça como o piscar dos números de um relógio. Mas, aos poucos, a memória recente revelou que eram os dois primeiros números do ônibus que me arrastara pelas pernas por uma rua inteira.
Os detalhes já não podia lembrar. A cena horrenda e cansativa se apagava a cada segundo após eu ter dispertado. Agora, mais acordada, as lembranças daquele dente arrancado, do ônibus que não me esperou adentrar totalmente para fechar as portas e toda a vergonha que senti naquele momento parecem distantes, para dar lugar as lembranças desagradáveis da vida real, que parecem cada vez mais próximas ao me levantar.